20 de dezembro de 2007

A grande solidão

Sozinhos nascemos. Sozinhos morreremos.
Assim é, assim sempre será.
E morrer, como todos sabem, é uma grande chatice. Algo que não se evita, infelizmente, nem malhando em academia e deixando de fumar. O ruim da morte é que evita a continuidade de nossos queixumes e esperanças.
Mas tem sim, uma coisa pior que a grande e afiada foice. É a morte em vida.
Aquela que permitimos, autorizamos, mas não deixamos rolar.
Me refiro, denuncio, essa morte estúpida e cotidiana de nada fazermos para romper a solidão. A minha, a sua, a de todos nós.
Custa pegar o telefone? Custa tanto assim abrir a porta? Custa algum dinheiro irmos ao encontro do outro?
Custa sim. Custa tanto que poucos fazem, preferindo se encapsular, como disse Fernando Pessoa, em sua própria cabeça.
Me refugio em meus pensamentos e excluo o Outro de meu mundo. Simples assim. Cruel assim. Meio masoquista, meio sádico.
Afinal, o Outro não me entende, compreende, me abraça.
Meus problemas são meus e ponto final.
Existe coisa mais estúpida que essa? Que tipo de animal somos nós que acha a solidão uma forma de defesa. Algum meteorito caiu sobre nossos genes e alterou nosso existir no mundo?
O que existe de tão terrível em abrir nossa alma, escancarar nosso coração, nos entregar a braços e corpos estranhos? Será que ser frágil e finito e humano é mesmo uma fraqueza?
Nós, esquisitos humanos, por meios culturais ou genéticos, conseguimos o que parecia impossível: sermos um organismo vivo que renega outro organismo vivo. Por isso colamos rótulos de inimigo na testa de quase todo mundo.
Mas a verdade é uma só e se sobrepõe a tudo: Se estou sozinho, estou morto. Orgulhoso zumbi.
É minha culpa, minha responsabilidade. Cabe a mim tomar uma providência já, agora. Será que sou capaz de fazer isso? Ou vou continuar esperando que o Outro tome a iniciativa?

Ulisses Tavares é o Outro, um cara igual a você. Idiota e solitário. Coisas de poeta.


TAVARES, Ulisses. A Grande Solidão. Revista Caros Amigos. São Paulo: Casa Amarela, n. 128, p. 21, nov. 2007.

14 de dezembro de 2007

no title.


e na vitrola antiga tocando: eu quero que você se top top top...BOOOOM!
...porque ser mulher tem isso: mandar todo mundo se lascar sem nenhum motivo aparente.
e nem vem.

10 de dezembro de 2007

Doce pétala, se vá


Dos telefonemas no meio da madrugada
Do seu sorriso que me alegra a alma
Dos seus olhos que me fazem parar
De você enfim, doce pétala da flor mais bela
Tantas vezes a mim mesmo prometi
Que iria me esquecer de você
E, no entanto, ainda não consegui

Quando a outro você estende a mão
E por ele seus olhos cantam de alegria
Ou quando seu perfume insiste em me perseguir
E eu me dou conta que não é você que está ali
Eu sinto tudo isso dentro de mim. E dói, dói demais
E mesmo assim, você nem imagina
O mal que tudo isso me faz

Sei que preciso me afastar de você
Mas como, se você já mora dentro de mim?
Como no meio da dança abandonarei meu par?
Isso é tão difícil de aceitar que dói desde já

Mas, ao deixar as emoções de lado
E começar a pensar bem, chego à temida conclusão
De que tenho que, enfim, largar sua mão
Mesmo sendo você tudo que eu sempre quis
Porque, no fim, tudo que quero é te ver feliz