28 de fevereiro de 2009

causos.



aquela velhinha deveria ter razão.
aquela cena não era a cena mais comum de se ler nas histórias de hoje em dia. não era causo pra ser fofocado em calçada, nem prosa pra ser dita na boca do dono do bar. era coisa estranha de se ver com essa ruma de coisa perdida que anda acontecendo por esse mundo de meu Deus.

a velhinha vinha observando de longe aqueles dois, sentados bem ali, naquele banco de praça no meio do pátio da escola. caminhou como quem não quisesse nada mas na verdade, queria ver de perto, isso sim. eles não perceberam quando ela passou.
mas ela passou.

passou olhando admirada, como quem vê o mar pela primeira vez ou como quem pode reviver alguma boa lembrança antiga. olhou em silêncio e viu aqueles dois, carregando no brilho dos olhos o reflexo do sorriso do outro. a velhinha não observou as damas que eles jogavam mas a forma como as mãos procuravam encontrar a paz do outro. a velhinha quis prestar atenção no que diziam mas havia pausas para beijos e sorrisos a todo instante.

ao identificar naquela cena muito das suas histórias vividas, a velhinha resolveu passar na frente deles, de novo. enquanto um pensava mais na forma de roubar um beijo do outro do que numa tática para ganhar o jogo de damas, a velhinha passou chamando a atenção deles e como quem elogia a vida sem medo do que pode acontecer amanhã, disse:

- O amor é lindo!

a velhinha causara um enorme sorriso neles, fazendo - os perceber que instantes como estes, caminham de braços dados com a eternidade e com a sensação de felicidade, sempre ingente. e embora, minutos depois eles tivessem que se separar, a velhinha sabia que tinha presenciado uma coisa boa de se ver e de se viver, e estava feliz por saber que até hoje em dia, coisas assim acontecem - perdidas em um canto longe do mundo - mas acontecem.

a velhinha estava feliz por isso.

talvez se não houvesse distância e não houvessem contratempos, eles pudessem estar juntos até agora disfrutando desses causos de novela que a vida insiste em presentear. só não estão juntos porque como na natureza, essas coisas tem seu tempo. a velhinha, por viver muito desses causos, sabe disso. e sabe também que a próxima vez que encontrá-los o sorriso e o brilho nos olhos ainda serão os mesmos e assim, mais uma vez ela vai poder observá-los de perto, relembrando com alegria o que pode viver um dia.

e quando esse dia chegar, um deles supreenderá a velhinha dizendo: o meu amor é lindo!

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